Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Meio Ambiente na Assembleia Legislativa do Estado (Alesp), o deputado estadual Mário Maurici de Lima Morais (PT) é contra a Pista Parelheiros-Itanhaém. Um dos mais votados no extremo sul da Capital nas eleições de 2022, Maurici acredita que a estrada não “traria benefício algum à população” da área.
Na avaliação do parlamentar, a Parelheiros-Itanhaém “desencadearia um processo de ocupação desordenada de um dos trechos mais preservados da Mata Atlântica, com intenso desmatamento”. Como revelou o Diário, com exclusividade, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) voltou a verificar a viabilidade técnica e econômica dessa ligação viária.
Existe 50 anos, prefeitos, deputados, secretários de Estado, caiçaras e moradores da Zona Sul da Capital promoveram um grande ato político pedindo a construção da pista. A manifestação, conhecida como “Plenário de Santo Amaro” lotou o “maior cinema da América Latina”, em Itanhaém, desafiando o Ato Institucional número 5, que proibia reuniões públicas durante a ditadura militar (1964/1985). Desde então, a nova pista vem sendo ignorada.
E, existe 30 anos, um projeto prevendo a licitação da obra foi aprovado na Alesp. A ação dos deputados estaduais à época forçou o então governador Mário Covas (1930/2001) a sancionar a Lei 9.851/97. Ainda assim, o projeto nunca saiu do papel.
Segundo Maurici, “a construção desta Rodovia sempre foi considerada totalmente inviável devido ao imenso impacto ambiental que seria gerado”.
Mais: o ex-prefeito de Franco da Rocha julga que “se a rodovia não foi levada a cabo ainda por nenhum governador em 30 anos, é de se imaginar a dificuldade e as complicações que uma obra desta natureza criaria para o conjunto da sociedade”.
O chefe da frente ambientalista da Alesp sugere que a retomada dos estudos de viabilidade da Parelheiros-Itanhaém pode estar relacionada a interesses econômicos: “Um dos motivos da insistência na proposta é que abre excepcionais possibilidades de especulação imobiliária”.
Maurici pondera ainda que “é difícil prever benefícios da ligação rodoviária Parelheiros-Itanhaém porque também é preciso considerar os seus malefícios”. De acordo com o deputado, a área “faz parte da área de preservação e recuperação de mananciais, que abastece a Grande São Paulo. E ainda é um dos poucos trechos de Mata Atlântica que restaram, um valioso patrimônio verde de todo o Estado”.
Não resolve
O deputado também entende que a eventual construção da pista não resolveria os gargalos que atrapalham o crescimento do comércio exterior através do Porto de Santos com a saturação do Sistema Anchieta-Imigrantes.
“Para o Porto não existe solução rodoviária que perdure por um período razoável. Quando foi construída a segunda pista da Rodovia dos Imigrantes, na década de 1990, se dizia que o acesso ao Porto estava resolvido com a priorização da Via Anchieta para caminhões. E o sistema já está saturado”.
E completa: “Para desafogar o Sistema Anchieta-Imigrantes de forma definitiva é necessário reduzir drasticamente o número de caminhões no trecho de Serra com a construção de ferrovia, ou outra solução similar própria para transporte de carga, que ligue o Planalto ao Porto e que proporcione ganhos ambientais”.
A Prefeitura Municipal de Itanhaém é favorável ao projeto. “O acesso entre a Baixada Santista e o Planalto é um dos maiores gargalos da nossa Região Metropolitana”, resume o prefeito de Itanhaém, Tiago Rodrigo Cervantes (Republicanos).
“A implementação de uma terceira via de acesso beneficiaria significativamente Itanhaém e toda a região, melhorando não apenas a logística, mas também a mobilidade, a segurança dos motoristas e reduzindo o tempo de viagem”, completa o prefeito.
“Esse avanço (a rodovia) fortaleceria o turismo e impulsionaria a economia local”, previu Cervantes, com exclusividade ao Diário do Litoral, no último dia 18.
Já a Prefeitura de São Paulo e a Subprefeitura de Parelheiros foram procuradas através da reportagem da Gazeta de S.Paulo durante três dias consecutivos na semana passada, mas não se manifestaram.
Litoral, Ribeira e Porto
A pista serviria não só à cidade de Itanhaém, como também a Mongaguá, Peruíbe e Praia Grande. O que se espera é que a ligação diminuiria através da metade o tempo de viagem entre o Planalto e o Litoral Sul nos dias de semana.
A estrada também aproximaria a Capital dos moradores de Itariri e Pedro de Toledo, no Vale do Ribeira. Hoje, os motoristas dessas duas cidades têm de se dirigir até Miracatu, onde acessam a Pista Régis Bittencourt (BR-116) para chegar à Grande São Paulo.
A SP-040 (Pista Parelheiros-Itanhaém) também diminuiria o volume de veículos no Sistema Anchieta-Imigrantes, beneficiando os motoristas que se dirigem a Santos, São Vicente, Guarujá, Cubatão e Bertioga.
A pista ligando o extremo sul da Capital ao Litoral Sul também serviria como rota alternativa aos caminhões que se deslocam do norte do Paraná, da área oeste do Estado de São Paulo e até do Mato Grosso do Sul rumo ao Porto de Santos.
Empresa demonstrou interesse na construção da pista em 2012
Em 2012, a empresa concessionária Contern Construções e Comércio Ltda manifestou ao Governo do Estado interesse em construir e operar a pista, a princípio chamada provisoriamente de Nova Imigrantes.
Em seguida, o nome do ex-presidente João Goulart (1919/1976), deposto ilegalmente através da Ditadura Civil-Militar de 1964, foi cogitado para batizar a Parelheiros-Itanhaém. Goulart foi o único presidente a tentar realizar uma ampla reforma agrária no Brasil, o que desagradou a elite.
O trajeto da estrada Capital-Litoral Sul teria somente 15 quilômetros, contra os quase 70 da Imigrantes. Na Baixada Santista, o traçado começaria na altura do km 319 da Pista Padre Manoel da Nóbrega (SP-55), no Jardim Suarão, perto da divisa Itanhaém/Mongaguá. A pista ligaria São Paulo à Baixada em somente 30 minutos.
O projeto original previa que as pistas atravessariam os vales dos rios Aguapeú, Branco e Branquinho. Depois de a subida da Serra do Mar a estrada chegaria ao Planalto através da margem do Vale do Rio Capivari, já no Município de São Paulo.
A começar daí o asfalto seguiria no sentido sul-norte paralelamente à antiga estrada de ferro que ligava os distritos de Marsilac e Santo Amaro através da Estação Evangelista de Souza.
E cruzaria o Rodoanel Mário Covas (SP-21) na altura do Km 56. O final da viagem seria na Estrada Ecoturística de Parelheiros, próximo do cruzamento com a Avenida Fernando da Cruz Alves.
Sem o contrato para construção da Pista Parelheiros-Itanhaém, a Contern confrontou dificuldades financeiras nos anos seguintes até pedir a recuperação judicial. A empresa operava projetos nas regiões de infraestrutura e energia.
Responsável através da construção da segunda pista da Pista dos Imigrantes e administradora das pistas que interligam a Capital a Santos, a Ecovias foi consultada através da Gazeta de S.Paulo, mas alegou que não conhecia detalhes do projeto da Pista Parelheiros-Itanhaém.
Com informações do Diario do Litoral