Depois de dois dias de audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) acerca dos impactos das bets no Brasil, o ministro Luiz Fux afirmou estar convicto de que, “sem regulação, não se pode permanecer nessa atividade”. Fux ouviu 43 representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil, acadêmicos, times de futebol, setor varejista e integrantes dos poderes Legislativo e do Executivo.
O ministro convocou o acontecimento com o objetivo de conseguir contribuições com informações técnicas para subsidiar o julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 7.721, em que a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) pede a invalidação da Lei das Bets (Lei 14.790/2023).
“A audiência foi riquíssima. Eu consegui destacar mais de duas dezenas de pontos de atrito que devem ser avaliados pelo STF, mas uma coisa se tornou muito uniforme em todas as explanações: é a questão da falta de regulação. Sem regulação, não se pode permanecer nessa atividade. E é isso que eu vou avaliar”, adiantou Fux.
O ministro lembrou que existe a afirmação de que já existe uma regulação com o auxílio de portarias do Ministério da Fazenda, mas que ainda não entraram em vigor. “Vou avaliar exatamente esse prazo de vigência das portarias e a questão da avaliação material de tantos problemas que foram suscitados, como problemas psíquicos, endividamento e outras questões inerentes ao vício da aposta. Isso tudo vai ser analisado com mais cuidado, porque os dados ainda são muito imprecisos”, completou o ministro, depois de o término da audiência.
Veja a fala do ministro:
A audiência iniciou nesta segunda-feira (11/11), e contou com a manifestação de mais de 30 representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e de acadêmicos.
Nesta terça (12/11), segundo e último dia, 13 expositores falaram. Dentre eles representantes do Senado Federal, de entidades da sociedade civil, da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e de clubes de futebol.
Final do futebol
Representantes do Botafogo, Fluminense e Cruzeiro falaram no acontecimento. Embora tenham entoado discursos diferentes, todos foram unânimes em suas apresentações no ponto em que acreditam que o final das bets provocaria o final do futebol no Brasil.
Na noite de segunda-feira (11/11), a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu para que o STF declare inconstitucional a Lei das Bets, que regulamentou o mercado de apostas no Brasil. Os clubes pediram o contrário: que Lei nº 14.790/2023 seja mantida. Para eles, a inconstitucionalidade dessa lei não extinguirá o mercado de apostas, mas o manterá de forma clandestina. Os times também dizem que os avanços para o futebol se extinguirão.
Por volta de 30 clubes de futebol assinaram um manifesto pedindo a manutenção da legislação. O advogado do Fluminense, André Sica, falou representar todos os times na leitura do documento e citou que, hoje, 15 times da série A contam com patrocínio master das casas de aposta.
“É evidente que o ambiente regulado permite também que os clubes escolham um aspecto positivo do mercado, uma vez que ele representa uma das maiores fontes de receitas do futebol brasileiro, seja pela venda de espaços publicitários nos estádios ou pela obtenção de patrocínios”, falou Sica.
O advogado do Cruzeiro, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, ressaltou que a realidade do futebol no Brasil mudou e que, hoje, “o futebol brasileiro não existe sem o patrocínio das bets. Os clubes vão quebrar. Talvez não o Flamengo, porque tem uma imensa torcida, mas os pequenos, alguns grandes, vão quebrar”, afirmou ele na tribuna do STF.
Veja os eixos temáticos abordados nos dois dias de audiência pública na Corte:
- Questões técnicas associadas à saúde mental e aos impactos neurológicos da prática das apostas sobre o comportamento humano;
- Efeitos econômicos para o comércio e seus efeitos na economia doméstica;
- Consequências sociais desse novo marco regulatório;
- Uso das plataformas de apostas para lavagem de dinheiro e demais crimes;
- Tributação e extrafiscalidade no setor de apostas;
- Transparência das plataformas de apostas;
- Publicidade e instrumentos de gameficação no setor de apostas;
- Direitos patrimoniais dos apostadores.
Com informações Metropoles