Greve geral está programada para o dia 9 de junho / Arquivo Pessoal – Matheus Henrique
Uma greve geral entre os entregares de aplicativos, como o iFood, está programada para ocorrer no dia 9 de junho, sexta-feira, bem no meio do feriado prolongado de Corpus Christi, que acontece na quinta, dia 8. A categoria reinvindica uma série de melhorias, dentre elas a Apólice de Seguro, taxas diferenciadas para entrega de mercados, fim das entregas duplas dentre outras. No comunicado, que circula em grupos do Whatsapp, há ameaças a quem não aderir ao movimento.
Condições melhores de trabalho fazem parte de antigas reinvidicações dos entregadores de aplicativos. No atual comunicado, que convoca para a greve do dia 9 de junho, eles citam ao menos 20 itens de reivindicação, dentre eles a Apólice de Seguro, taxas diferenciadas para entrega de mercados, fim das entregas duplas, aumento da taxa de espera (quando o entregador fica aguardando o pedido do cliente no estabelecimento), pontos de apoio para os entregadores etc.
“Se fizer coleta o bicho vai pegar”
Ao final da convocação, uma ameaça: aqueles entregadores que fizerem “coleta”, ou seja, pegarem pedidos, poderão ter suas motos danificadas. “Depois não digam que não avisamos”, finaliza o texto, que na sequência cita as pautas a serem melhoradas pelo iFood.
A Reportagem do DL conversou com um motoboy de Santos, que pediu para não ter a sua identidade revelada. Entregador de delivery desde 2019, ele encabeçou a paralisação que ocorreu em julho de 2020, e disse que muitas coisas melhoraram até então, mas que ainda há outras a serem trabalhadas.
“O que nós queremos, em uma paralisação pacífica, é que o iFood melhore as nossas condições de trabalho. Há itens que, para eles, não custaria nada mexer, já que trazem prejuízos apenas para nós, entregadores. É o bom senso que está em jogo e esperamos avançar mais alguns passos depois do dia 9. Aliás, estamos abertos a conversar e, quem sabe, cancelar a greve”, pontua.
Sobre o tom de ameaças aos que não aderirem, ele disse que “há alguns exageros da parte de quem escreve esses comunicados, mas que a intenção do movimento é não ter violência alguma, tampouco contra os próprios entregadores”.
O presidente do Sindimoto Baixada, Alessandro Monteiro (o Sandro), disse que toda manifestação para melhorar as condições de trabalho são válidas, mas que, ao seu ver, elas precisam ser de forma organizada e direcionada.
“Não vejo outra forma de avançarmos nessas questões se não através da regulamentação desses trabalhadores. Só assim teremos mais força de cobrar e de reinvidicar. Não sou contra as manifestações, pelo contrário. Mas entendo que será muito difícil 100% dos entregadores aderirem. E aí, quem para, acaba se prejudicando, pois não ganha”, explica Sandro.
O sindicalista acrescenta que muitos motociclistas dizem ser contra a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e querem mais autonomia, porém, por não terem vínculo ao iFood, por exemplo, fica um pouco vaga essa paralisação.
“Se são autônomos ou MEI, teoricamente eles não têm chefe ou patrão e fazem seus próprios horários, certo? Se fazem greve, essa greve é contra quem? Contra eles mesmos? Se param, não ganham. Por isso repito que a regulamentação é a única maneira de garantir direitos a essas pessoas e de cobrar, de forma organizada, melhorias. Mas, infelizmente, há muitos trabalhadores se colocando contra seus próprios direitos. É triste, mas é a realidade”, lamenta Sandro.
O Sindimoto Baixada garante piso salarial de R$ 1320,00 para entregadores, pela última convenção coletiva, além seguro de vida, auxílio periculosidade e de ter convênio com seguradoras de veículos, que oferecem preços e condições diferenciados para sindicalizados.
iFood
Em nota, o iFood afirma que respeita o direito à manifestação e à livre expressão dos entregadores e entregadoras. Desde 2020 a empresa diz que trabalha na construção de espaços recorrentes e permanentes de escuta e melhoria constante. Como empresa brasileira e ciente do seu papel na geração de oportunidades, tem se dedicado a criação de uma agenda sólida e perene de diálogo com os trabalhadores e representantes da categoria para o aprimoramento de iniciativas que garantam mais dignidade, ganhos e mais transparência para estes profissionais. A empresa afirma ainda que segue disponível ao diálogo aberto com os entregadores para buscar melhorias para os profissionais e para todo o ecossistema.